quinta-feira, 26 de julho de 2007

PROCESSO DE CRIAÇÃO

A PESQUISA

Inicialmente tenho observado as imagens dos artistas propostos, buscando o que mais pudesse me identificar. Edward Hopper ( 1882-1967, americano), foi uma das minhas escolhas devido aos temas cotidianos e o tratamento de cores de suas pinturas. Acho que me lembra Hockney. Em algumas telas, gostaria de colocar cores mais intensas e continuar trabalhando campos de cores, e ir alterando as cores de acordo com a localização dos objetos, e não ser muito estático, tentar inclinar para dar movimento. Sinto-me bem e as telas estão esticadas com o fundo que logo irei trabalhar.

Gosto também de Giorgio Morandi, pois a sua pincelada me parece despojada e isto é uma característica que temos em comum, embora eu goste de colocar muitos objetos, e ele uma quantidade menor. O preciosismo não me agrada e sinto que as minhas pinceladas estão sendo as que realmente me agradam. Quanto à materialidade de Morandi é outra coisa que me identifiquei, ela proporciona uma poética aos objetos, enfim acho que escolhi bem.

No entanto Flávio de Carvalho possui um uso de cores que lembra muito um auto-retrato que fiz como pode se ver abaixo.

Então esta identificação das cores, o uso de objetos do cotidiano e a materialidade irão nortear as pinturas.

Hoje é domingo e logo farei alguns esboços das pinturas que serão feitas, usarei coisas que estão no estúdio como vidros e cadeiras e trarei algumas frutas.

Com estes elementos tentarei criar a poética, que está tomando forma nestes trabalhos.

ESCREVENDO

Esta experiência de colocar no papel o sentimento e o processo tem me levado, a um questionamento constante do meu processo de elaboração e da minha poética, me sinto cada vez mais contente com as minhas escolhas, na minha busca pela expressão. Isto tem evitado alguns retornos a isto ou aquilo, perdas e ganhos, não posso fazer tudo que gostaria, prefiro me aprofundar cada vez mais no que tem me dado satisfação. Sinto-me muito bem e estou louco para continuar o trabalho.

PINTANDO

Os recortes coloridos de parte do meu estúdio vão tomando forma e após os esboços que fiz, os temas vão ficando cada vez mais claros, e vou me reencontrando, sinto que gosto também de coisas do cotidiano como Hopper, mas prefiro sempre usar os temas naturais não gosto da figura humana posando, prefiro que nem saiba que estou desenhando, o tema no geral são objetos sobre mesas que fazem parte do meu mundo, e usando tinta grossa para valorizar os objetos. Vou usar também informações que estão sobre as mesas de pessoas na rua.

A velhinha que comecei já se definiu e estou muito contente com ela, gosto de gente gorda, de velhos e figuras interessantes que o centro da cidade possui.

Estou agora no início do quadro dos vendedores de frutas e sinto que mudarei as cores, mas tudo dentro da seqüência do conjunto, minha disciplina está bem controlada e como falei anteriormente está sendo linear, acho que a técnica de deixar mais desfoque o que está no fundo tem se adequado bem a estes trabalhos,

Algo está me chamando a atenção nos vendedores de frutas, são os cartazes, eles me permitem fazer os grafismos que gosto tanto, dentro de um processo, de forma natural, dentro de um contexto, de um todo que é o todo do quadro, ou seja, não quero simplesmente fazer grafismos.

O PROCESSO

Após então realizar a pesquisa e desenvolver estes trabalhos me sinto apegado à questão dos “grafismos” nos letreiros da pintura do vendedor de frutas “o meu puncto”, ao grafismo da caveira vermelha, e a velha senhora quanto ao seu olhar.

Este trabalho com objetos sobre mesas me levou finalmente a querer desenvolver mais, estes temas que pude encontrar em minha casa e na rua, e pretendo continuar a fazê-lo escrevendo o que me trará uma clareza do que estou desenvolvendo e irá evitar “loopings”. A disciplina então me proporcionou um processo de ver com mais profundidade, não só o assunto, mas todo o processo de elaboração.

A CONTINUAÇÃO

Elaborada esta série estou só agora, vou passar um tempo pensando em tudo que realizei nestes últimos meses e continuando a escrever.

Penso que amadureci muito com este processo e estou pronto para continuar. Hoje peguei o objeto “Pathos” um objeto feito de arame e uma luz dentro, que ilumina os grafismos que estão pintados em radiografias que cobrem o arame, vi os grafismos se destacarem, isto me fez lembrar o quanto a melancolia faz parte da minha vida. A expressão em meu trabalho seria então uma comunicação desta melancolia? Os grafismos seriam uma forma de materializar ou de por para fora os tormentos dúvidas e esperanças? Acho que não, talvez seja a expressão da sinceridade e verdade, a maneira mais limpa que achei de continuar minha jornada pela pintura.

Às vezes observo um quadro que está em minha parede pintado em óleo e fico pensando que gosto muito do brilho e das passagens de cor indiscutíveis desta tinta, mas sinto que não será imperativa esta tinta em meu trabalho, pois não acho que devo colocar como fator principal, o que vai continuar motivando o processo será o conteúdo, a linguagem e a poética.

Estou louco para continuar pintando e penso que farei uma tela com mais grafismos.